sexta-feira, 25 de agosto de 2017

O Livro Dos Espíritos - Prolegômenos 16

Fenômenos acima das leis da ciência humana se dão por toda parte, revelando na causa que os produz a ação de uma vontade livre e inteligente.

A razão diz que um efeito inteligente há de ter como causa uma força inteligente e os fatos têm provado que essa força é capaz de entrar em comunicação com os homens por meio de sinais materiais.


Interrogada acerca da sua natureza, essa força declarou pertencer ao mundo dos seres espirituais que se despojaram do invólucro corporal do homem. Assim é que foi revelada a Doutrina dos Espíritos.


As comunicações entre o mundo espírita e o mundo corpóreo estão na ordem natural das coisas e não constituem fato sobrenatural, tanto que de tais comunicações se acham sinais entre todos os povos e em todas as épocas. Hoje se generalizaram e tornaram evidentes a todos.


Os Espíritos anunciam que chegaram os tempos marcados pela Providência para uma manifestação universal e que, sendo eles os ministros de Deus e os agentes de sua vontade, têm por missão instruir e esclarecer os homens, abrindo uma nova era para a regeneração da Humanidade.


Este livro é o repositório de seus ensinos. Foi escrito por ordem e mediante ditado de Espíritos superiores, para estabelecer os fundamentos de uma filosofia racional, isenta dos preconceitos do espírito de sistema. Nada contém que não seja a expressão do pensamento deles e que não tenha sido por eles examinado. Só a ordem e a distribuição metódica das matérias, assim como as notas e a forma de algumas partes da redação constituem obra daquele que recebeu a missão de publicá-los.


Entre o número dos Espíritos que colaboraram para a execução desta obra, muitos se contam que viveram, em épocas diversas, na Terra, onde pregaram e praticaram a virtude e a sabedoria. Outros, pelos seus nomes, não pertencem a nenhuma personagem, cuja lembrança a História guarde, mas cuja elevação é atestada pela pureza de seus ensinamentos e pela união em que se acham com os que usam de nomes
venerados.


Eis em que termos nos deram, por escrito e por muitos médiuns, a missão de escrever este livro:


16 Prolegômenos: princípios básicos, resumo, introdução de um livro – N. E.
 Deus E O Infinito -1- O Que é Deus?
 “Deus é a inteligência suprema, causa primária de todas as coisas”.18




18 O texto entre aspas e com cor de destaque, colocado em seguida às perguntas, é a resposta dada pelos Espíritos.
 - 2 - Que se deve entender por infinito?
 
“O que não tem começo nem fim: o desconhecido; tudo o que é desconhecido é infinito.”
- 3- Poderíamos dizer que Deus é o infinito?
 “Definição incompleta. Pobreza da linguagem humana, insuficiente para definir o que está acima da linguagem dos homens.”

Deus é infinito em suas perfeições, mas o infinito é uma abstração. Dizer que Deus é o infinito é tomar o atributo de uma coisa pela coisa mesma, é definir uma coisa que não está conhecida por outra que não o está mais do que a primeira.
19

19 Comentário de Allan Kardec, conforme informação da nota de rodapé anterior — N. E.
 - Provas Da Existência De Deus -  4 - Onde podemos encontrar a prova da existência de Deus?

“Num axioma 20 que aplicais às vossas ciências. Não há efeito sem causa. Procurai a causa de tudo o que não é obra do homem e a vossa razão responderá.”

Para crermos em Deus, basta olhar para as obras da Criação. O Universo existe, logo tem uma causa. Duvidar da existência de Deus é negar que todo efeito tem uma causa e avançar que o nada pôde fazer alguma coisa.


20 Axioma: máxima, sentença, afirmação – N. E.
 - 5 - Que conclusão se pode tirar do sentimento intuitivo, que todos os homens trazem em si, da existência de Deus?
 
“Que Deus existe; pois, de onde lhes viria esse sentimento, se não tivesse uma base? É ainda uma consequência daquele princípio — não há efeito sem causa.”
 - 6 - O sentimento íntimo que temos da existência de Deus não poderia ser fruto da educação, resultado de ideias adquiridas?
 
“Se assim fosse, por que também em vossos selvagens existiria esse sentimento?”


Se o sentimento da existência de um ser supremo fosse somente produto de um ensino, não seria universal e não existiria senão nos que pudessem receber esse ensino, conforme se dá com as noções científicas.
O Livro Dos Espírito - 7 - Poderíamos achar nas propriedades íntimas da matéria a causa primária da formação das coisas?
 “Mas, então, qual seria a causa dessas propriedades? Sempre é indispensável uma causa primária.”

Atribuir a formação primária das coisas às propriedades íntimas da matéria seria tomar o efeito pela causa, pois essas propriedades são — também elas — um efeito que há de ter uma causa.
O Livro Dos Espíritos - 8 - Que se deve pensar da opinião dos que atribuem a formação primária a uma combinação fortuita da matéria, ou, de outra forma, ao acaso?
 “Outro absurdo! Que homem de bom-senso pode considerar o acaso um ser inteligente? E, demais, que é o acaso? Nada.”

A harmonia existente no mecanismo do Universo revela combinações e desígnios determinados e, por isso mesmo, revela um poder inteligente. Atribuir a formação primária ao acaso é insensatez, pois que o acaso é cego e não pode produzir os efeitos que a inteligência produz. Um acaso inteligente já não seria acaso.
O Livro Dos Espíritos - 9 - Onde é que, na causa primária, se revela uma inteligência suprema e superior a todas as inteligências?
 
“Vocês têm um provérbio que diz: Pela obra se reconhece o autor. Pois bem! Vejam a obra e procurem o autor. O orgulho é que gera a incredulidade. O homem orgulhoso nada admite acima de si. Por isso é que ele se denomina a si mesmo de espírito forte. Pobre ser, que um sopro de Deus pode abater!”

O poder de uma inteligência se julga pelas suas obras. Como nenhum ser humano pode criar o que a Natureza produz, a causa primária é, conseguintemente, uma inteligência superior à Humanidade. Quaisquer que sejam os fenômenos que a inteligência humana tenha operado, ela própria tem uma causa e, quanto maior for o que opere, tanto maior há de ser a causa primária. Aquela inteligência superior é que é a causa primária de todas as coisas, seja qual for o nome que lhe deem.
O Livro Dos Espíritos - Atributos Da Divindade -
10 - O homem pode compreender a natureza íntima de Deus?

 “Não; para isso lhe falta o sentido.”
O Livro Dos Espíritos - 11- Algum dia o homem compreenderá o mistério da Divindade?
 
“Quando não mais tiver o espírito obscurecido pela matéria. Quando, pela sua perfeição, se houver aproximado de Deus, ele o verá e compreenderá.”

Os poucos recursos do homem não lhe permite compreender a natureza íntima de Deus. Na infância da Humanidade, o homem o confunde muitas vezes com a criatura, da qual lhe atribui as imperfeições; mas, à medida que o senso moral se desenvolve nele, seu pensamento penetra melhor no interior das coisas; então, faz ideia mais justa da Divindade e mais conforme com a boa razão — ainda que sempre incompleta.
O Livro Dos Espíritos - 12 - Embora não possamos compreender a natureza íntima de Deus, podemos formar ideia de algumas de suas perfeições?

“De algumas, sim. O homem as compreende melhor à proporção que se eleva acima da matéria. Ele as vê pelo pensamento.”
O Livro Dos Espíritos - 13 - Quando dizemos que Deus é eterno, infinito, imutável, imaterial, único, onipotente, soberanamente justo e bom, temos ideia completa de seus atributos?
 
“Do seu ponto de vista, sim, porque vocês creem abranger tudo. Porém, saibam que há coisas que estão acima da inteligência do homem mais inteligente, as quais a sua linguagem, limitada às ideias e sensações de vocês, não tem meios de explicar. Com efeito, a razão diz que Deus deve possuir essas perfeições em grau supremo, pois, se uma lhe faltasse, ou não fosse infinita, Ele já não seria superior a tudo e, portanto, não mais seria Deus. Para estar acima de todas as coisas Ele tem que se achar livre de qualquer fraqueza e de qualquer das imperfeições que a imaginação possa criar.”

Deus é eterno. Se tivesse tido princípio, teria saído do nada, ou, então, também teria sido criado por um ser anterior a Ele. É assim que, de degrau em degrau, exploramos o infinito e à eternidade.


É imutável. Se estivesse sujeito a mudanças, as leis que regem o Universo não teriam nenhuma estabilidade.
É imaterial. Quer dizer, que a sua natureza difere de tudo o que chamamos matéria. De outro modo, ele não seria imutável, porque estaria sujeito às transformações da matéria.


É único. Se muitos Deuses houvesse, não haveria unidade de pensamento, nem unidade de poder na ordenação do Universo.


É onipotente. Ele é, porque é único. Se não tivesse o poder soberano, algo haveria mais poderoso ou tão poderoso quanto ele, que então não teria feito todas as coisas. O que não fosse feito por Ele teriam sido obra de outro Deus.


É soberanamente justo e bom. A sabedoria providencial das leis divinas se revela tanto nas coisas mais pequeninas como nas maiores, e essa sabedoria não permite divisão nem da justiça nem da bondade de Deus.
O Livro Dos Espíritos - Panteísmo -  14 - Deus é um ser distinto, ou, como alguns pensam, será o resultado de todas as forças e de todas as inteligências do Universo reunidas?
 
“Se fosse assim, Deus não existiria, porque seria efeito e não causa. Ele não pode ser ao mesmo tempo uma e outra coisa.

“Deus existe; disso vocês não podem duvidar e é o que interessa. 


Acreditem no que digo: não devem ir além. Não se percam num labirinto de onde não conseguiriam sair. Isso não vos tornaria melhores, mas sim, um pouco mais orgulhosos, pois que acreditariam saber, quando na realidade nada saberiam. Deixem de lado todos esses sistemas; vocês têm bastantes coisas que vos tocam mais de perto, a começar por vocês mesmos. Estudem as suas próprias imperfeições, a fim de se libertarem delas, o que será mais útil do que pretender penetrar no que é impenetrável.”
O Livro Dos Espíritos - 15 - Que devemos pensar da opinião segundo a qual todos os corpos da Natureza, todos os seres, todos os globos do Universo seriam partes da Divindade e em conjunto seriam a própria Divindade, ou seja, que pensar da doutrina panteísta?
 
“Não podendo fazer-se Deus, o homem quer ao menos ser uma parte dele.”
O Livro Dos Espíritos - 16 - Aqueles que confessam esta doutrina acham nela a demonstração de alguns dos atributos de Deus: Sendo infinitos os mundos, Deus é, por isso mesmo, infinito; não havendo em parte alguma o vazio ou o nada, Deus está por toda parte; estando Deus em toda parte, pois que tudo é parte integrante de Deus, ele dá a todos os fenômenos da Natureza uma razão de ser inteligente. No que podemos nos opor a este raciocínio?
 “A razão. Reflitam seriamente e não será difícil reconhecerem o absurdo.”

Esta doutrina faz de Deus um ser material que, embora dotado de suprema inteligência, seria um ponto grande tal como somos um ponto pequeno. Ora, como a matéria se transforma constantemente, se Deus fosse assim, não teria nenhuma estabilidade; Ele se acharia sujeito a todas as fraquezas, como as mesmas necessidades da Humanidade; faltaria a Ele uma das qualidades essenciais da Divindade: a imutabilidade. Não se podem aliar as propriedades da matéria à ideia de Deus, sem que Ele fique rebaixado ante a nossa compreensão e não haverá sutilezas de sofismas21 que cheguem a resolver o problema da sua natureza íntima. Não sabemos tudo o que Ele é, mas sabemos o que Ele não pode deixar de ser e o Panteísmo está em contradição com as suas mais essenciais propriedades. Ele confunde o Criador com a criatura, exatamente como o faria quem pretendesse que engenhosa máquina fosse parte integrante do mecânico que a imaginou.

A inteligência de Deus se revela em suas obras como a de um pintor no seu quadro; mas, as obras de Deus não são o próprio Deus, como o quadro não é o pintor que o concebeu e executou.


21 Sofisma: argumento ou raciocínio enganoso colocado de propósito para se passar pela verdade; enganação por ilusão – N. E.
Conhecimento Do Princípio Das Coisas -
17 - É permitido ao homem conhecer o princípio das coisas?

“Não, Deus não permite que tudo seja revelado ao homem neste mundo.”
O Livro Dos Espíritos - 18 - O homem penetrará algum dia no mistério das coisas que lhe estão ocultas?
 “O véu se levanta a seus olhos à medida que ele se purifica; mas, para compreender certas coisas, é preciso faculdades que ele ainda não possui.”
O Livro Dos Espíritos - 19 - Não poderíamos penetrar pelas investigações científicas alguns dos segredos da Natureza?
 
“A Ciência lhe foi dada para seu adiantamento em todas as coisas; porém, ele não pode ultrapassar os limites que Deus estabeleceu.”
Quanto mais o homem consegue penetrar nesses mistérios, tanto maior admiração lhe devem causar o poder e a sabedoria do Criador. 


Entretanto, seja por orgulho, seja por fraqueza, sua própria inteligência o faz joguete da ilusão. Ele ajunta teorias sobre teorias e cada dia que passa lhe mostra quantos erros tomou por verdades e quantas verdades rejeitou como erros. São outras tantas decepções para o seu orgulho.
O Livro Dos Espíritos - 20 - Fora das investigações científicas, é permitido ao homem receber comunicações de ordem mais elevada acerca do que está além do alcance dos seus sentidos?
 
“Sim, se assim julgar conveniente, Deus pode revelar o que à ciência não é dado apreender.”

Por essas comunicações é que o homem adquire, dentro de certos limites, o conhecimento do seu passado e do seu futuro.
O Livro Dos Espíritos - Espírito E Matéria -
21- A matéria existe desde toda a eternidade, assim como Deus, ou foi criada por Ele em algum momento?

 “Só Deus o sabe. Todavia, há uma coisa que a vossa razão deve indicar: é que Deus, modelo de amor e caridade, nunca esteve desocupado. Por mais distante que possam imaginar o início de sua ação, poderiam imaginar que Deus fique sem fazer nada, um só momento?”
O Livro Dos Espíritos - 22 - Geralmente, a matéria é definida como sendo: o que tem extensão, o que é capaz de nos impressionar os sentidos, o que é impenetrável. Estas definições são exatas?
 
“Do ponto de vista de vocês, elas são, porque falam somente do que conhecem. Mas a matéria existe em estados que ignoram. Por exemplo, pode ser tão etérea e sutil, que não cause nenhuma sensação aos sentidos humanos. Contudo, é sempre matéria, embora para vocês, não o seria.”

a) Que definição podemos ter de matéria?

“A matéria é o laço que prende o Espírito; é o instrumento de que este se serve e sobre o qual exerce ao mesmo tempo sua ação.”

De acordo com essa ideia, podemos dizer que a matéria é o agente, o intermediário com o auxílio do qual e sobre o qual o Espírito atua.
O Livro Dos Espíritos - 23 - O que é espírito?
 
“Espírito é o princípio inteligente do Universo.”
 
a) — Qual a natureza íntima do espírito?

“Não é fácil analisar o espírito com a vossa linguagem. Para vocês ele é nada por não ser palpável. Entretanto, para nós ele é alguma coisa. Saibam disso: nada é coisa nenhuma e o nada não existe.”
O Livro Dos Espíritos - 24 - Espírito é sinônimo de inteligência?
 “A inteligência é uma qualidade essencial do espírito e uma e outro se confundem num princípio comum, de maneira que, para vocês, são a mesma coisa.”
O Livro Dos Espíritos - 25 - O espírito independe da matéria, ou é apenas uma propriedade desta, como as cores são propriedades da luz e o som o é do ar?
 “São distintos uma do outro, mas, a união do espírito e da matéria é necessária para intelectualizar a matéria”.22

a) — Essa união é igualmente necessária para a manifestação do espírito? (Entendemos aqui por espírito o princípio da inteligência, exceção feita das individualidades que por esse nome se designam.)
 
“É necessária a todos vocês, porque não têm organização suficiente para perceber o espírito sem a matéria. Os vossos sentidos não estão ajustados para isso.”
O Livro Dos Espíritos - 26 - Poderíamos conceber o espírito sem a matéria e a matéria sem o espírito?
 
“Sim, sem dúvida, pelo pensamento.”
O Livro Dos Espíritos - 27 - Há então dois elementos gerais do Universo: a matéria e o espírito?

Sim e acima de tudo Deus, o criador, o pai de todas as coisas. Deus, espírito e matéria constituem o princípio de tudo o que existe, a ‘trindade universal’. Mas, ao elemento material é preciso somar o fluido universal, que desempenha o papel de intermediário entre o espírito e a matéria propriamente dita, que é bastante grosseira para que o espírito possa exercer ação sobre ela. Embora, de certo ponto de vista, seja possível classificá-lo com o elemento material, ele se distingue deste por propriedades especiais. Se o fluido universal fosse concretamente matéria, não haveria razão para que também o espírito não o fosse. 

Está colocado entre o espírito e a matéria; é um fluido, como a matéria é matéria, e suscetível, pelas suas inumeráveis combinações com esta e sob a ação do espírito, de produzir a infinita variedade das coisas de que apenas conheceis uma parte mínima. Esse fluido universal, ou primitivo, ou elementar, sendo o meio de que o espírito se utiliza, é o princípio sem o qual a matéria estaria em perpétuo estado de divisão e nunca adquiriria as qualidades que a força da gravidade lhe dá.”

a) — Esse fluido será o que chamamos de eletricidade?

“Dissemos que ele é capaz de inúmeras combinações. O que chamam fluido elétrico, fluido magnético, são modificações do fluido universal, que não é, propriamente falando, senão matéria mais perfeita, mais sutil e que se pode considerar independente.”
O Livro Dos Espíritos - 28 - Como o espírito é propriamente alguma coisa, não seria mais exato e menos sujeito a confusão dar dois significados aos elementos gerais — matéria inerte e matéria inteligente?
“As palavras pouco importam para nós. Cabe a vocês formular a linguagem da maneira que bem entendem. Quase sempre, as vossas controvérsias vêm de não se entenderem acerca dos termos que usam, por ser incompleta a vossa linguagem para explicar o que não estão ao alcance dos sentidos.”

Um fato evidente domina todas as hipóteses: vemos matéria sem inteligência e vemos um princípio inteligente que independe da matéria. A origem e a conexão destas duas coisas nos são desconhecidas. Se vêm ou não de uma só fonte; se há pontos de contato entre ambas; se a inteligência tem existência própria, ou se é uma propriedade, um efeito; se é mesmo, conforme à opinião de alguns, uma emanação da Divindade, essas cosias nós ignoramos. 


Elas se nos mostram como sendo distintas; daí porque as considerarmos formando os dois princípios básicos do Universo. 

Vemos acima de tudo isso uma inteligência que domina todas as outras, que governa tudo, que se distingue delas por atributos essenciais. A essa inteligência suprema é que chamamos Deus.
O Livro Dos Espíritos - Propriedades Da Matéria -
29 - A ponderabilidade23 é um atributo essencial da matéria?

 
“Da matéria que você entendem, sim; porém, não da matéria considerada como fluido universal. A matéria etérea e sutil que constitui esse fluido é imponderável para vocês. Nem por isso, entretanto, deixa de ser o princípio da vossa matéria pesada.”

A gravidade24 é uma propriedade relativa. Fora das esferas de atração dos mundos, não há peso, do mesmo modo que não há alto nem baixo.


23 Ponderabilidade: qualidade ou condição daquilo que se pode medir, pesar, contar – N. E.
24 Gravidade: lei da Física relativa à força de atração entre os corpos – N. E.
O Livro Dos Espíritos - 30 - A matéria é formada de um só elemento ou de muitos?
 “De um só elemento primitivo. Os corpos que considerais simples não são verdadeiros elementos, são transformações da matéria primitiva.”
O Livro Dos Espíritos - 31- De onde surgem as diversas propriedades da matéria?
 “São modificações que as moléculas elementares sofrem, por efeito da sua união, em certas circunstâncias.”
O Livro Dos Espíritos - 32 - De acordo com isso, os sabores, os odores, as cores, o som, as qualidades venenosas ou saudáveis dos corpos não passam de modificações de uma única substância primitiva?
  “Sem dúvida e que só existem devido à disposição dos órgãos destinados a percebê-las.”

A demonstração deste princípio se encontra no fato de que nem todos percebemos as qualidades dos corpos do mesmo modo: enquanto que uma coisa agrada ao gosto de um, para o paladar de outro é detestável; o que uns veem azul, outros veem vermelho; o que para uns é veneno, para outros é inofensivo ou benéfico.
O Livro Dos Espíritos - 33 - A mesma matéria elementar é suscetível de experimentar todas as modificações e de adquirir todas as propriedades?
 
“Sim e é isso o que se deve entender, quando dizemos que tudo está em tudo!”25



O oxigênio, o hidrogênio, o azoto, o carbono e todos os corpos que consideramos simples são meras modificações de uma substância primitiva. Na impossibilidade em que ainda nos achamos de remontar, a não ser pelo pensamento, a esta matéria primária, esses corpos são para nós verdadeiros elementos e podemos, sem maiores consequências, tê-los como tais, até nova ordem.


a) Essa teoria parece que dá razão aos que só admitem na matéria apenas duas propriedades essenciais: a força e o movimento, entendendo que todas as demais propriedades não passam de efeitos secundários, que variam conforme à intensidade da força e à direção do movimento?

“Essa opinião está certa. Falta somente acrescentar: conforme o alinhamento das moléculas, como o mostra, por exemplo, um corpo opaco, que pode tornar-se transparente e vice-versa.”

25 Este princípio explica o fenômeno conhecido de todos os magnetizadores e que consiste em, pela ação da vontade, dar a uma substância qualquer (à água, por exemplo) propriedades muito diversas: um gosto determinado e até as qualidades ativas de outras substâncias. Desde que não há mais de um elemento primitivo e que as propriedades dos diferentes corpos são apenas modificações desse elemento, o que se segue é que a mais inofensiva substância tem o mesmo princípio que a mais deletéria. Assim, a água, que se compõe de uma parte de oxigênio e de duas de hidrogênio, se torna corrosiva, duplicando-se a proporção do oxigênio. Igual transformação se pode produzir por meio da ação magnética dirigida pela vontade – N. E.
O Livro Dos Espíritos - 34 - As moléculas têm forma determinada?
 
“Certamente, as moléculas têm uma forma, porém vocês não são capazes de compreendê-la.”
 
a) Essa forma é constante ou variável?

“Constante a das moléculas elementares primitivas; variável a das moléculas secundárias, que mais não são do que aglomerações das primeiras. Porque, o que julgam ser molécula ainda está longe de ser molécula elementar.”
O Livro Dos Espíritos - Espaço Universal -
35 - O Espaço universal é infinito ou limitado?

 
“Infinito. Supondo que fosse limitado, o que haverá além de seus limites? Sei que isto te confunde a razão; no entanto, a lógica te diz que não pode ser de outro modo. O mesmo se dá com o infinito em todas as coisas. Não é na pequenina esfera em que acharão que poderão compreendê-lo.”

Supondo-se um limite ao Espaço, por mais distante que a imaginação o coloque, a razão diz que além desse limite alguma coisa há e assim, gradativamente, até ao infinito, pois, embora essa alguma coisa fosse o vazio absoluto, ainda seria Espaço.
O Livro Dos Espíritos - 36 - O vácuo absoluto existe em alguma parte no Espaço universal?
 
“Não, não há o vácuo. O que te parece vazio está ocupado por matéria que te escapa aos sentidos e aos instrumentos.”
O Livro Dos Espíritos - Formação Dos Mundos -
O Universo abrange a infinidade dos mundos que vemos e dos que não vemos, todos os seres animados e inanimados, todos os astros que se movem no espaço, assim como os fluidos que o preenchem.
 
37- O Universo foi criado, ou existe de toda a eternidade, como Deus?
 
“É fora de dúvida que o Universo não pode ter criado a si mesmo. Se, como Deus, existisse de toda a eternidade, não seria obra de Deus.”

A razão nos diz que não é possível que o Universo tenha feito a si mesmo e que, não podendo também ser obra do acaso, há de ser obra de Deus.
O Livro Dos Espíritos - 38 - Como criou Deus o Universo?
“Para me servir de uma expressão corrente, direi: por Sua Vontade. Nada caracteriza melhor essa vontade onipotente do que estas belas palavras da Gênesis – ‘Deus disse: Faça-se a luz e a luz foi feita’.” 26

26 Gênesis: primeiro livro da Bíblia. A citação de Kardec consta no capítulo 1, versículo 3 – N. E.
O Livro Dos Espíritos - 39 - Poderemos conhecer o modo da formação dos mundos?
 
“Tudo o que se pode dizer a esse respeito e o que vocês podem compreender é que os mundos se formam pela condensação da matéria disseminada no Espaço.”
O Livro Dos Espíritos - 40 - Serão os cometas, como agora se pensa, um começo de condensação da matéria, mundos em via de formação?
 “Isso está certo; absurdo, porém, é acreditar-se na influência deles. Refiro-me à influência que vulgarmente lhes atribuem, porque todos os corpos celestes influem de algum modo em certos fenômenos físicos.”
O Livro Dos Espíritos - 41- Um mundo completamente formado pode desaparecer e sua matéria voltar e se espalhar no Espaço?
 
“Sim, Deus renova os mundos, como renova os seres vivos.”
O Livro Dos Espíritos - 42 - Poderíamos conhecer o tempo que dura a formação dos mundos: da Terra, por exemplo?
 “Nada te posso dizer a respeito, porque só o Criador o sabe e bem louco será quem pretenda sabê-lo, ou conhecer que número de séculos dura essa formação.”
O Livro Dos Espíritos - Formação Dos Seres vivos - 43 - Quando a Terra começou a ser povoada?
 
“No começo tudo era caos; os elementos estavam em confusão. Pouco a pouco cada coisa tomou o seu lugar. Apareceram então os seres vivos apropriados ao estado do globo.”
O Livro Dos Espíritos - 44 - De onde os seres vivos vieram para a Terra?
 “A Terra continha os germens que aguardavam momento favorável para se desenvolverem. Os princípios orgânicos se uniram desde que teve fim a força que os mantinha afastados, e formaram os germens de todos os seres vivos. Estes germens permaneceram ocultos em estado de inércia, como a crisálida e as sementes das plantas, até o momento propício ao surgimento de cada espécie. Os seres de cada uma destas se reuniram, então, e se multiplicaram.”
O Livro Dos Espíritos - 45 - Onde estavam os elementos orgânicos, antes da formação da Terra?
 
“Achavam-se, por assim dizer, em estado de fluido no Espaço, no meio dos Espíritos, ou em outros planetas, à espera da criação da Terra para começarem existência nova em novo globo.”

A Química nos mostra as moléculas dos corpos inorgânicos unindo-se para formarem cristais de uma regularidade constante, conforme cada espécie, desde que se encontrem nas condições precisas. Basta a menor perturbação nestas condições para impedir a reunião dos elementos, ou, pelo menos, para atrasar à disposição regular que constitui o cristal. Por que não se daria o mesmo com os elementos orgânicos? 


Durante anos se conservam germens de plantas e de animais, que só se desenvolvem a certa temperatura e em meio apropriado. Temos visto grãos de trigo germinarem depois de séculos. Há, pois, nesses germens um princípio latente de vitalidade, que apenas espera uma circunstância favorável para se desenvolver. O que diariamente ocorre debaixo das nossas vistas, por que não pode ter ocorrido desde a origem do globo terráqueo? A formação dos seres vivos, saindo eles do caos pela força mesma da Natureza, diminui de alguma coisa a grandeza de Deus? Longe disso: corresponde melhor à ideia que fazemos do seu poder a exercer-se sobre a infinidade dos mundos por meio de leis eternas. É verdade que esta teoria não resolve a questão da origem dos elementos vitais; mas, Deus tem seus mistérios e pôs limites às nossas investigações.
O Livro Dos Espíritos - 46 - Ainda há seres que nasçam espontaneamente?
 
“Sim, mas o gérmen primitivo já existia em estado latente27. Vocês são testemunhas desse fenômeno todos os dias. Os tecidos do corpo humano e o dos animais não contêm os germens de uma multidão de vermes que só esperam para provocar o processo de decomposição que é necessária para a existência? É um mundo minúsculo que dormita e se cria.”

27 Estado latente: oculto, adormecido e em desenvolvimento, à espera da hora de se revelar – N. E.
O Livro Dos Espíritos - 47 - A espécie humana se encontrava entre os elementos orgânicos contidos no globo terrestre?
 “Sim, e veio a seu tempo. Por isso que se diz que o homem se formou do barro da terra.” 28

28 Naturalmente, podemos compreender que a "espécie humana" aqui referida diz respeito ao organismo físico humano, e não ao ser em si (a alma, ou o Espírito) — N. E.
O Livro Dos Espíritos - 48 - Poderemos conhecer a época do aparecimento do homem e dos outros seres vivos na Terra?
 
“Não; todos os vossos cálculos são ilusórios.”
O Livro Dos Espíritos - 49 - Se o gérmen da espécie humana se encontrava entre os elementos orgânicos do globo, por que não se formam espontaneamente homens, como no princípio dos tempos?
 “O princípio das coisas está nos segredos de Deus. Entretanto, podemos dizer que os homens, uma vez espalhados pela Terra, absorveram em si mesmos os elementos necessários à sua própria formação, para transmiti-los segundo as leis da reprodução. O mesmo se deu com as diferentes espécies de seres vivos.”