sábado, 19 de agosto de 2017

O Livro Dos Espíritos - Conclusão - 9 -

Os adversários do Espiritismo não se esqueceram de se armar contra ele com algumas divergências de opiniões sobre certos pontos da Doutrina. Não deveria causar estranheza, nem é de admirar que, no início de uma ciência — quando as observações ainda são incompletas e cada um a considera sob seu ponto de vista —, sistemas contraditórios tenham oportunidade de aparecer. Mas, hoje, a grande maioria desses sistemas já caiu diante de um estudo mais aprofundado, a começar pelo que atribuía todas as comunicações ao Espírito do mal, como se fosse impossível a Deus enviar aos homens bons Espíritos; doutrina absurda, pois é desmentida pelos fatos; incrédula, porque é a negação do poder e da bondade do Criador. Os Espíritos sempre nos aconselharam a não nos inquietarmos com essas divergências e que a unidade se daria. A unidade já está firmada na maioria dos pontos, e as divergências tendem a desaparecer cada dia. Com relação a essa questão perguntou-se aos Espíritos: enquanto se aguarda a união, sobre o que pode o homem imparcial e desinteressado basear-se para formar um julgamento? Eis a resposta:

“A luz mais pura não é obscurecida por nenhuma nuvem; o diamante puro tem mais valor; portanto, julguem os Espíritos de acordo com a pureza de seus ensinamentos. Não esqueçam que entre os Espíritos existem aqueles que ainda não se livraram das ideias da vida terrestre; saibam distingui-los por sua linguagem; julguem pelo conjunto do que eles dizem; vejam se existe encadeamento lógico em suas ideias; se nelas nada revela ignorância, orgulho ou malevolência; em resumo, se suas palavras trazem sempre o cunho da sabedoria que manifesta a verdadeira superioridade. Se o mundo humano fosse inacessível ao erro, seria perfeito, e ele está longe disso. Ainda estão nele para aprender a distinguir o erro da verdade; faltam as lições da experiência para exercer o julgamento e os fazer avançar. A unidade se produzirá do lado em que o bem nunca foi misturado com o mal; é desse lado que os homens se unirão pela força das coisas, porque reconhecerão que aí está a verdade.


“Aliás, que importam algumas divergências que estão mais na forma do que no fundo! Notem que os princípios fundamentais são por toda parte os mesmos e devem lhes unir por um pensamento comum: o amor de Deus e a prática do bem. Assim, seja qual for o modo de progresso que se supõe ou as condições normais de existência futura, o objetivo final é o mesmo: fazer o bem; portanto, não existem duas maneiras de fazê-lo.”


Se entre os adeptos do Espiritismo existem aqueles que diferem de opinião sobre alguns pontos da teoria, todos concordam sobre os pontos fundamentais. Portanto, há unidade, exceto da parte dos que, em número muito reduzido, não admitem ainda a intervenção dos Espíritos nas manifestações e as atribuem ou a causas puramente físicas, o que é contrário a esta máxima: Todo efeito inteligente deve ter uma causa inteligente, ou a um reflexo do próprio pensamento dos homens, o que é desmentido pelos fatos. Os outros pontos são apenas secundários e não comprometem em nada as bases fundamentais. Portanto, podem haver escolas que procuram se esclarecer sobre as partes ainda controvertidas da ciência, mas não devem ser rivais entre si. A contradição apenas deve existir entre aqueles que querem o bem e aqueles que fariam ou desejariam o mal. Ora, não existe um espírita sincero e compenetrado nos grandes ensinamentos morais ensinados pelos Espíritos que possa querer o mal nem desejar o mal de seu próximo sem distinção de opinião. Se uma dessas escolas está no erro, a luz, cedo ou tarde, se fará para ela, desde que haja boa-fé e ausência de prevenção. Enquanto isso, todas têm um laço comum que deve uni-las em um mesmo pensamento; todas têm um mesmo objetivo. 


Pouco importa o caminho, uma vez que conduza a essa meta. 

Nenhuma deve se impor pelo constrangimento material ou moral, e estaria no caminho falso apenas aquela que condenasse ou reprovasse a outra, porque agiria evidentemente sob a influência de maus Espíritos. A razão deve ser o supremo argumento e a moderação assegurará melhor o triunfo da verdade do que as críticas envenenadas pela inveja e pelo ciúme.

Os bons Espíritos ensinam apenas a união e o amor ao próximo. Nunca um pensamento mau ou contrário à caridade pode provir de uma fonte pura. Estudemos sobre este assunto e, para terminar, os conselhos do Espírito de Santo Agostinho:


“Por muito tempo os homens se estraçalharam e se amaldiçoaram em nome de um Deus de paz e de misericórdia, ofendendo-o com semelhante sacrilégio. O Espiritismo é o laço que um dia os unirá, porque mostrará onde está a verdade e onde está o erro. Mas por muito tempo ainda haverá escribas e fariseus que o negarão, como negaram o Cristo. Querem saber sob a influência de que Espíritos estão as diversas seitas que dividiram entre si o mundo? Julguem-nas por suas obras e princípios. Nunca os bons Espíritos foram os instigadores do mal; nunca aconselharam nem legitimaram o assassinato e a violência; nunca excitaram os ódios dos partidos, nem a sede das riquezas e das honras, nem a avidez dos bens da Terra. Somente aqueles que são bons, humanos e benevolentes para com todos são seus preferidos e são também os preferidos de Jesus, porque seguem o caminho indicado para chegar até ele.”


Santo Agostinho

Nenhum comentário:

Postar um comentário